terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Viva a língua.

Paris, Londres e Barcelona. Série excepcional de vídeos do EF International Language Centers, mostrando a diferença que a língua faz na absorção de uma determinada cultura. 
Fácil de entender até pra quem só fala o português, afinal de contas a emoção é uma linguagem universal. Direção de arte impecável com um trabalho tipográfico impressionante. Toca de verdade.







segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O que alimenta a sua alma?




por Andrei Polessi

Escrever pra mim não é tarefa das mais fáceis, principalmente por não ser escritor. Mas existe um determinado momento em que uma voz nasce dentro da gente e que, mesmo após muito relutar, temos que soltá-la. Não, não me refiro a ser cantor, ventríloquo, artista performático ou nada parecido. Minha voz interior nasceu dentro da minha barriga, mais precisamente no meu estômago.
Essa voz me dizia sobre gostos, temperos, harmonizações e preparos. Seduzia-me com aromas imaginários e com vontades secretas de gulas intermináveis. Falava sobre sabores nunca antes provados, receitas secretas, restaurantes três estrelas Michelin, de uma especialidade “não-sei-o-que, não-sei-bem-de-onde” – tesouros bem guardados, esperando pelo desbravador de colher em punho.

Comigo foi assim desde pequeno, barriga no fogão, assistindo duas grandes experts trabalharem: minha avó e minha mãe. Nada de técnicas francesas ou demi-glacês. Só o simples dom da combinação certa de ingredientes. O bom-senso da pitada – e quanta sabedoria há numa pitada. O conhecimento empírico passado de geração para geração, do carinho e da responsabilidade para com o ato de preparo dos alimentos. Alimentar é muito mais que simplesmente aquecer o estômago de alguém.
Josimar Melo, crítico e apresentador bon vivant gastronômico, é um dos caras que mais respeito e admiro no mundo das panelas tupiniquins. Ele diz: "Gastronomia é uma aquisição. Uma vez assimilada, a pessoa não consegue se livrar dela, passa a ficar mais exigente e a buscar o prazer que a boa comida proporciona". E é assim que eu me sinto na maioria das vezes. Não me considero um chato, sou realmente exigente, porém, democrático.
Gosto do bife acebolado e do confit de canard. Gosto da galinhada com quiabo e da codorna com risoto de pera. Na verdade, tento levar um pouco da filosofia budista pra cozinha: "O caminho do meio".  Vejo nessa escolha, uma opção clara: honestidade.

Antes de tudo, a comida ter que ser saborosa. Simples assim. Mas esta premissa esta sendo esquecida. Aquele “pseudo restaurante” francês que cobra os olhos da cara por uma culinária sem qualidade e com ingredientes de terceira, o famoso chef que todos aplaudem pelo que sua assessoria de imprensa construiu e não seus pratos. Isso é muito frequente e me causa certa indigestão.
Acho que muitos se esquecem que a reunião gastronômica, seja em casa, seja num restaurante, é uma experiência sensorial completa, não só dos paladares. Sabor é o mínimo, depois vem todo o resto. Visual, olfativa, sonora (será que existe algo pior que sentar à mesa com som ligado no último volume em alguma rádio FM?!)

Alimentar é, antes de qualquer coisa, um ato de doação total, de entrega e devoção. Em primeiro lugar é oferecer ao outro, energia imprescindível às células, ao sangue, ao corpo, para que funcionem e trabalhem direito. É manter a máquina azeitada e rodando bem.
Em segundo lugar, alimentar é acalentar a alma, oferecer aquela sensação de proteção e segurança que só se sente depois de uma boa refeição. Sem dúvida remonta ainda de nosso reflexo ancestral evolutivo de perpetuação da espécie, onde alimentados, sabemos que teremos força para lutar por nossas vidas e para proteger nossas crias.
Já nosso primeiro alimento, o leite materno, traz em si doses de amor, de cumplicidade e estreitamento fundamental na relação entre mãe e filho. Pesquisas mostram que as crianças que mamam no peito, desenvolvem maior autoestima, se tornando adultos mais seguros e confiantes. Isso sem falar na carga de imunidade transmitida pelo leite da mãe, fazendo desse primeiro alimento uma verdadeira vacina contra diversos tipos de doenças.

Cozinhar é também meditar, se entregar num mantra silencioso e mental de repetição da receita, das combinações, do picar, do mexer e do imaginar. De esvaziar a mente buscando a verdade a cada prova da colher: “Mais sal? Mais pimenta? Mais amor?!” 
O alimento movimenta o mundo, molda nossas culturas, costumes e nossa vida. Há quem diga que a fome é o melhor tempero. Eu acrescentaria o carinho.
A honestidade na proposta de um prato, de um vinho que acompanhe, de um ambiente que abrace, tudo preparado com cuidado, com atenção, com amor. Aquele velho bom senso da pitada. Seja no preparo de um prato simples e barato, seja num clássico da cozinha internacional com ingredientes raros. Afinal de contas, tudo o que se quer ao se sentar numa mesa, é passar bons momentos e ter uma experiência memorável e construtiva. Que nos faça entender um pouco mais sobre nós mesmos, conversando, rindo e interagindo com amigos e família. E que melhor guia, se não a gastronomia pra nos levar por esses caminhos?

Vejo a indigestão como algo extremamente natural. Já dizia Victor Hugo que "a indigestão é uma criação de Deus para impor uma certa moralidade ao estômago".
Nesse ponto temos que convir, tem hora que é melhor ficarmos só na canjinha. Afinal de contas, cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém! Pelo menos não na primeira meia-hora.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

“Ó o fninho aírrmão”



por Leonardo Möller editor

Acabara de passar em frente a um local que, por mais tarde que eu chegue do trabalho, sempre tem um movimento particular. Viaturas policiais, casais ou adultos do lado de fora da grade, na calçada, e alguns lá dentro, esperando qualquer coisa. Frequentemente, também, algum jovem ou adolescente. De dia, a mesma coisa. É no quarteirão do meu apartamento e caminho obrigatório ao descer do ônibus, de volta pra casa. Hoje parei para ler a placa, pela primeira vez nos poucos meses em que moro ali. O nome é enorme, como só repartições públicas sabem ter, mas lá no meio dele aparecia: Atendimento ao Adolescente Autor de Ato Infracional. Eu nem sabia que isso existia.

Uns passos mais, após contornar a esquina, vejo um guri — como dizemos em minha terra — magricela, com uma camiseta surrada e, mesmo à distância, visivelmente maior que o número dele. Bem maior. Logo reparo que está descalço. No centro da cidade, pra lá de 10 da noite, aquele jeito de caminhar gingado, descalço na rua… Não podia ser boa coisa. Os pés dele eram pretos, escuros mesmo. E, como ele não era negro nem de longe, o pretume fazia com que se destacassem, formando uma espécie de bota de sujeira sobre a pele. Ao redor, tudo era obscuro; o comércio fechado só nos deixava iluminados pelas lâmpadas fracas e antigas dos postes daquela região, um tanto maltratada. Mesmo assim, como caminhávamos em sentido contrário, um em direção ao outro, a cena se tornava cada vez mais nítida.

Graças a Deus — pensei —, antes de cruzar com ele cheguei ao portão do meu prédio. Parei de costas para a rua e, enquanto aguardava que o porteiro abrisse a porta de vidro, acompanhei pelo reflexo se o tal guri ia seguir caminho ou tentar me roubar, pedir alguma coisa… sei lá. É claro, aparentando total segurança e destemor — fingidos.

Cinco a dez passos depois de me ultrapassar, parado que eu estava diante da porta ao longo daqueles 15 segundos que não acabavam nunca, ele se vira para trás e balbucia qualquer coisa em minha direção. Estica o braço, apontando para onde eu estava, e diz de novo as mesmas palavras. Só entendi isto: “Ó o fninho aírrmão”.

Minha reação? Não respondi, fingi que não era comigo, torci que a porta abrisse logo. “Cadê o porteiro, que não desgruda os olhos do futebol sagrado de toda quarta-feira à noite, neste país?”

Ufa! Entrei e lacrei o portão de vidro atrás de mim. O clique da fechadura pareceu-me o ruído mais agradável do dia. Definitivamente, eu não saberia como interagir com aquela figura estranha.

Cumprimentei o porteiro, entrei no elevador e, dentro dele, subitamente me dei conta… Da única palavra que havia compreendido, deduzi o restante da frase do guri: “Olha o interfoninho aí, irmão”.

E não é que o guri me chamou de irmão? E não é que ele queria, a seu modo, ajudar? Logo a mim, que não soube ter outra reação perante ele — de costas pra ele — que não o receio ou o susto? Naquele instante, o tratamento com pinta de gíria ganhava outro sentido para mim. Irmão. O guri se dizia — e era — meu irmão.

Irmão. Essa palavra, clara porque pronunciada com o erre bem marcado, quase à moda carioca, me fez lembrar O descobrimento, de Mário de Andrade, particularmente o trecho que conheci na voz de Ferreira Gullar.

Abancado à escrivaninha em São Paulo
na minha casa da Rua Lopes Chaves
de supetão senti um friúme por dentro
Fiquei trêmulo, muito comovido
com o livro palerma olhando pra mim
Não é que me lembrei que lá no norte, meu Deus!
muito longe de mim
na escuridão ativa da noite que caiu
um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos,
depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
faz pouco se deitou, está dormindo.
Esse homem é brasileiro que nem eu.

Ao entrar em casa, meu apartamento novo pelo qual estou enamorado, pensar sobre o episódio foi inevitável. Para mim, conviver com cenas como aquela do guri só é possível graças ao espiritismo. Entender que há alguma justiça e alguma forma de amor a orquestrar ambas as realidades — a minha e a dele — sem a reencarnação e sem outros elementos que o pensamento espírita oferece… Eu não posso; nunca pude. Antes de integrar uma instituição que desempenha um trabalho beneficente que considero relevante, antes de cooperar com ele, antes de me dedicar a uma profissão que tem por finalidade difundir ferramentas para compreensão dessa realidade, à luz da imortalidade… Para mim, era impossível.

E aí brotou minha oração de gratidão da noite, que se encerra com este texto e, mais importante, com a vontade renovada de encarar, amanhã e depois, todos os desafios que ficaram me esperando na Casa dos Espíritos e na Casa de Everilda Batista.

E pra você, o que torna possível encarar a parte dura do dia a dia?



quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Felicidade é só questão de ser.

Marcelo Jeneci e Laura Lavieri no clipe de Felicidade. Um dos maiores sucessos de Jeneci, um artista conhecido como integrante da nova safra de músicos paulistas, os "novos paulistas". Simplicidade e verdade com a beleza que só Jeneci consegue, fazendo o clipe na casa da avó em Pernanbuco. Fica a vontade de dançar na chuva quando a chuva vem.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Menor autoestima, maior dificuldade para se desculpar.





*fonte de reportagem, Revista Mente e Cérebro
A consciência do erro afeta a autoimagem de pessoas emocionalmente frágeis. Reconhecer um erro e pedir perdão não é fácil para a maioria das pessoas. Para algumas, ainda, é realmente penoso. “A consciência do erro afeta a autoimagem, o que deixa egos 'mais frágeis' relutantes”, diz o psicólogo Andrew Howell, da Universidade Grant MacEwan, no Canadá, autor de um estudo que relaciona traços de personalidade e “predisposição” para pedir desculpas.

Howell solicitou a homens e mulheres de diferentes idades que assinalassem se concordavam ou não com sentenças de um questionário, como “Por ainda estar com raiva quase nunca consigo me desculpar” e “Se acho que os outros não vão saber o que fiz, prefiro não pedir perdão”. Em seguida, os pesquisadores cruzaram as respostas com testes de personalidade aplicados aos mesmos voluntários.

“Como já esperávamos, as pontuações mais altas em traços como amabilidade e empatia coincidiram com maior aptidão em se desculpar”, explica o psicólogo. Por outro lado, pessoas que disseram sentir vergonha de se desculpar revelaram baixa autoestima, apesar de se sentirem incomodadas ao ferir os sentimentos de outra pessoa. Um dado interessante: participantes com forte senso de justiça se mostraram com mais dificuldade para pedir perdão. “Podemos dizer que ser adepto da filosofia do 'olho por olho' e admitir os próprios erros é incompatível”, acredita Howell.

O perdão e a autoestima são alguns dos principais temas abordados no livro de lançamento de Marcos Leão, pelo espírito Calunga, Você com você. Para saber mais, acesse o livro na sessão catálogo em nosso site.

Se quiser, faça ainda o download grátis da degustação do livro:

O outro lado da moeda.



Publicar livros é antes de tudo, se entregar. É estar pronto pra receber críticas mas também elogios. E em meio a essas discussões dos últimos dias – temas que nos fizeram refletir muito sobre nosso papel como editora, comunicadores e divulgadores de uma filosofia – trazemos hoje pra compartilhar, uma mensagem muito positiva que recebemos de um leitor de Porto Alegre e que segue abaixo:


Prezados irmãos:
Com muita emoção, me reporto a essa Casa de Caridade, para manifestar minha gratidão aos conhecimentos e aos esclarecimentos que me trouxeram a leitura de "TAMBORES DE ANGOLA" e "ARUANDA" psicografados por Robson Pinheiro, ditado pelo espírito Ângelo Inácio.
Nasci na religião católica, me tornei espírita kardecista aos 13 anos de idade e somente agora, com 56 anos, tive o privilégio de acessar aos esclarecimentos obtidos pela leitura das obras acima mencionadas, rompendo, de vez, com todos os preconceitos que ainda se impunham pela minha ignorância, à "aumbandha" ou, umbanda. Estou sinceramente emocionado e agradecido pela oportunidade que tive de ter acesso às informações e conhecimento  dessas obras. Completando a trilogia, iniciarei a leitura de "O CORPO FECHADO", ditado pelo mesmo espírito e igualmente psicografado por Robson Pinheiro, a quem envio meu especial abraço, levando agradecimento ao maravilhoso trabalho que desenvolve, esclarecendo e derrubando preconceitos ainda tão atávicos à cultura espiritista no Brasil.  Ao espírito sob pseudômino Ângelo Inácio, meu mais sincero agradecimento, emitindo vibrações de que a Luz de Aruanda, continue presenteando a todos nós, com o conhecimento, o entendimento e o AMOR que deve urnir os dois planos da Vida. Fraternalmente,
 
Eudorico C. Morejano Neto
Porto Alegre/RGS


Assim como publicamos as críticas recebidas nos posts passados, publicamos hoje esse imenso elogio. Este é o outro lado da moeda. Um reconhecimento e um agradecimento tão sincero, que nos faz seguir adiante. Acreditando, trabalhando e sobretudo confiantes de que estamos no caminho certo. Obrigado Eudorico pelas palavras. Receba um grande abraço da Casa dos Espíritos.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

“A força da grana, que ergue e destrói coisas belas”



Após o post intitulado Críticas e o exercício da reflexão, recebemos o seguinte comentário, reproduzido logo abaixo. Como estou numa semana de inspiração, cheio de reflexões suscitadas a partir desses mesmos comentários, queria escrever mais um argumento inspirado nas palavras a seguir e menos uma resposta, propriamente dita. A intenção não é alimentar réplicas e tréplicas, mas refletir sobre a relação que nós, espíritas de modo geral, temos com o comércio e o dinheiro.

Eis o comentário:


Prezado Leonardo Möller, gostaria somente de completar algo de O Evangelho segundo o espiritismo, cap. 26, questão 10. “(…) eles podem a isso por um preço; o médium curador transmite o fluido salutar dos bons espíritos; ele não tem o direito de vendê-lo”. Jesus e os apóstolos, conquanto pobres, não faziam pagar as curas que operavam. Como existem centos espíritas, há centros espiritualistas, que não tem nada haver com a doutrina de Allan Kardec. Portanto, há uma diversidade de doutrinas espiritualistas, que, pegam um trecho do “ESE” [O Evangelho segundo o espiritismo] e faz (sic) um fundamento totalmente equivocado da Doutrina! Eu respeito seu posicionamento, pq vc é editor, e quer vender, somente isso! Reflita sobre o que eu te escrevi! Rodrigo Starling Lopes


Fico pensando… Evidencia-se ao longo de todo o texto, à medida que o lemos, que o capítulo citado de O Evangelho segundo o espiritismo aborda a prática da mediunidade, condenando a atitude dos médiuns que comercializam aquilo que chama de “dom gratuito: o de serem intérpretes dos Espíritos, para instrução dos homens, para lhes mostrar o caminho do bem e conduzi-los à fé, não para lhes vender palavras que não lhes pertencem, a eles médiuns, visto que não são fruto de suas concepções, nem de suas pesquisas, nem de seus trabalhos pessoais” (kardec, Allan. O Evangelho segundo o espiritismo. Rio de Janeiro: feb, 2005. 1ª ed. esp. p. 468, cap. 26, item 7). Não apenas nesse trecho, mas em vários outros pontos, fala-se da mediunidade gratuita, de não se cobrar pelo exercício da faculdade mediúnica. Mais adiante, lê-se, por exemplo: “A mediunidade, porém, não é uma arte, nem um talento, pelo que não pode tornar-se uma profissão” (Ibidem, p. 470). Mesmo quando comenta o episódio em que Jesus expulsa os vendilhões do templo (Mt 21:12-13), Kardec deixa claro tanto o que é condenável quanto a linha de raciocínio que adota: “Deus não vende a sua bênção, nem o seu perdão, nem a entrada no reino dos céus. Não tem, pois, o homem, o direito de lhes estipular preço” (Ibidem, p. 438). Em suma, o próprio versículo que dá nome ao capítulo não deixa margem a dúvidas: “Dai gratuitamente o que gratuitamente haveis recebido” (Mt 10:8. Grifo nosso).

Se a condenação é quanto a comercializar aquilo que recebemos gratuitamente, por que há certo desdém em relação à prática do comércio irrestritamente, sobretudo mas não só dentro das casas espíritas, fato que observo em tantos adeptos do espiritismo e até mesmo no discurso oficial de algumas instituições? Sim! Acredite. Em muitas delas existe restrição quanto à existência de livraria ou lanchonete, porque vender parece ser algo abominável. Também não se pode promover eventos pagos, ou que revertam lucro para a manutenção das instituições.

Entretanto, é preciso fazer a devida distinção. O comércio é algo muito positivo, a meu ver. É uma força motora da sociedade, tão robusta que já foi capaz de provocar rupturas históricas, como quando do surgimento da classe comercial, então denominada burguesia. Naquela época, a sociedade rompeu com a Igreja e o medievalismo vigente, e há quem explique o advento do protestantismo como uma forma de atender à necessidade de uma nova cultura religiosa, que não condenasse o lucro e a usura. Lembra os dias de escola? É por meio do comércio que trocamos informações, experimentamos o diferente, podemos usufruir de tantas coisas, desde viagens, educação, cultura e entretenimento até os cuidados com vestuário, saúde, nutrição etc.

De mais a mais, não é meio demagógico banirmos o comércio como algo maldito, sendo que todos sobrevivemos graças ao comércio, em certa medida? Sim, quem trabalha na indústria é pago porque a produção é vendida; quem trabalha no comércio de produtos e serviços ou é profissional liberal, nem se fala. Quem milita na esfera estatal recebe proventos porque foram auferidos impostos em toda a atividade produtiva, comercial e financeira. Até quem atua no terceiro setor, com ajuda governamental, recebe verbas para o trabalho beneficente porque a maioria, por meio do comércio, contribuiu com recursos que possibilitam as ações de erradicação da miséria.

No que tange à história do espiritismo, vale lembrar que foi por meio do comércio que o espiritismo se difundiu. Alto lá! Não me degolem ainda.

A doutrina se estruturou graças à inspiração da falange do espírito Verdade e à mediunidade, eu sei. E, em grande medida, devido ao gênio investigativo, perspicaz e genuinamente científico do homem Allan Kardec, um inquiridor “de tirar o chapéu”. Agora, tudo isso teria ficado perdido na poeira dos tempos, ou restrito a um pequeno círculo que conservaria a tradição por via oral, caso não fosse o comércio. Sim, a atividade comercial proporcionou o investimento tanto no processo editorial como na impressão e distribuição de O livro dos espíritos e, mais tarde, das demais obras. Até onde sei, o espiritismo é a única filosofia que contém aspecto religioso que nasceu não com a fundação de um templo, não com a pregação ou os gestos de um missionário; nasceu, em vez disso, com a publicação de um livro. Um livro que, tão logo pronto, foi vendido. Isso mesmo! Vendido, vendido, vendido!

Então, pergunto: acaso Kardec e seus editores não queria que o livro vendesse? Vou além: acaso a falange do espírito Verdade dedicou-se à produção do livro — cuja publicação eles próprios determinaram a Kardec — sem esperar e até desejar que fosse vendido? Meu Deus! É o comércio que possibilitou que o livro chegasse até o Brasil, até nossa mão, na atualidade, trazendo os princípios espíritas de forma mais fiel que qualquer outro método pudesse garantir. O comércio foi a bênção que remunerou as centenas e centenas de horas investidas em tradução, revisão e edição, assim como tornou possível o enorme investimento em papel, impressão e distribuição, exposição e venda ao consumidor final.

Como se vê, ao vender um livro, por exemplo, não se vende nada obtido gratuitamente; muito pelo contrário. Portanto, é uma satisfação enorme vender um livro cujo conteúdo nos enche de entusiasmo, alegria, fé na vida, fervor e desejo de que outros possam ver a vida pelas lentes ali apresentadas.

Quando nosso leitor Rodrigo afirma que sou “editor, e quer[o] vender, somente isso”, é como se vender estivesse em oposição ao grande objetivo de todos nós, que é a difusão das ideias espíritas. Ou como se fosse um objetivo menos nobre. É como se vender fosse algo comparável a imiscuir o profano em meio ao sagrado da doutrina espírita… Puxa, chega de pautarmos nossa visão da vida em termos de sagrado e profano, numa atitude inconsciente tão afeita à mentalidade medieval, barroca.

Como mencionei na introdução, não escrevo somente respondendo a Rodrigo, mas lançando uma ideia a todos aqueles que, em inúmeras vezes, vi, ouvi ou li condenarem a atividade comercial e o empenho em fazê-la da forma mais eficaz possível — principalmente quando o produto é de caráter espírita.

É verdade que me parece relativamente novo esse movimento de repúdio ao comércio mais ou menos presente nas fileiras espíritas; tem crescido nas últimas duas ou três décadas, acredito. Antes disso, desbravadores e grandes personalidades do espiritismo brasileiro fundaram uma tradição de muito comércio, sobretudo de livros espíritas, por meio de livrarias, feiras, bancas e outras iniciativas. Tanto assim que, historicamente, é seguro afirmar que o principal meio de financiamento do movimento espírita tem sido a publicação e venda de livros de conteúdo doutrinário. Tanto da parte das editoras, muitas das quais vinculadas a audaciosas obras sociais e de difusão espírita, quanto da parte dos centros espíritas, que tinham na livraria e no incentivo ao consumo de livros e à leitura sua grande fonte de renda, a fim de manter as atividades. Afinal, a contribuição regular de sócios beneméritos nunca foi o forte dos adeptos do espiritismo no Brasil, que geralmente não simpatizam com nada que se assemelhe, nem de longe, ao dízimo.

Dessa maneira, sou forçado a perguntar: a que se deve esse movimento recente em direção ao temor ou à condenação da venda e do comércio em ambiente espírita — e até fora dele? Como disse anteriormente, ninguém está falando de vender o que foi concedido de graça; jamais poderia defender a comercialização da mediunidade, das curas, das comunicações verdadeiramente esclarecedoras e consoladoras a que assistimos tantas vezes na prática espírita cotidiana. Será que essa visão negativa sobre a venda, às vezes velada, mas consistente, não pode ser uma estratégia daqueles que se opõem à larga difusão das ideias de Jesus? Não é coerente imaginar que procurem agir justamente sobre o calcanhar de Aquiles dos religiosos em geral, que é a relação com o dinheiro? Será que não pode ser uma tática ardilosa cujo objetivo é boicotar o crescimento e a modernização das instalações espíritas, e consequentemente seu enfraquecimento? Afinal, quem condena o comércio nas casas espíritas apresenta alternativas sensatas e viáveis de financiamento dessas instituições, em caráter universal? Depender exclusivamente de doações não se enquadra nessa categoria; nenhum trabalho relevante pode estar sujeito às flutuações naturais desse processo.

Voltando à realidade do livro, pergunto também: por que será que, progressivamente, aquelas livrarias espíritas que destinam seus lucros à manutenção de instituições têm perdido mercado para as livrarias convencionais, que descobriram o sucesso que é a seção de volumes espíritas bem abastecida?

Sim, eu quero vender livros espíritas. Os da Casa dos Espíritos, os de Kardec, os demais, especialmente aqueles de que mais gosto, porque acredito têm mais aspectos interessantes, relevantes, e estilo que aprecio. Quero vender, sim, mas não “somente isso”, como afirma Rodrigo, desconfiado. Quero vender um produto que seja o melhor possível, o mais bem elaborado e acabado que estiver a nosso alcance. Quero vender sempre mais, de modo que nós, espíritas, possamos investir mais e mais em publicidade e ações de marketing que tornem as ideias espíritas mais conhecidas a cada dia, na medida que despertam o interesse do maior número de pessoas possível. Vender, a fim de que tenhamos mais recursos para dedicar ao patrocínio e à produção de filmes, à edição e à tradução de livros, à venda de direitos autorais de nossa vasta bibliografia no exterior, possibilitando e tradução e a distribuição dos livros espíritas fora das estreitas fronteiras de nosso idioma e de nosso país. E porque, além de acreditar que faz bem à alma, só se pode fazer isso mostrando às editoras estrangeiras que o livro espírita é um bom negócio.

Estou certo de que não há uma linha em Kardec ou em Jesus que condene o comércio, de modo absoluto e irrestrito; que repudie o dinheiro e os recursos para empregar em boas coisas. Há, sim, recriminação da ganância, da exploração, da corrupção, do egoísmo, da desonestidade… Mas, assim como Kardec fez com O livro dos espíritos — um sucesso comercial instantâneo, a sua época —, estou convencido de que comércio pode ser feito sem incorrer em nenhuma dessas práticas. Portanto, é importante ser preciso ao declararmos nosso repúdio. Vender é bom, sim! Além do mais, gerar renda, emprego e impostos com um trabalho de qualidade é bom para o país e a sociedade; é uma das alegrias de ser empreendedor.

Desejo muita prosperidade às iniciativas espíritas, para que possam fazer sempre mais. Desejo essa ambição, esse fervor ardendo no peito de dirigentes e líderes espíritas, pois é bom ver nossa fé produzir frutos. E, ainda, é lamentável ver belos trabalhos fechando as portas ou sobrevivendo à míngua, às custas de alguns poucos, que se sacrificam, não raro além de suas possibilidades, em nome do ideal que lhes move.

Além disso tudo, desejo também que nós, espíritas, possamos fazer as pazes com a “força da grana, que ergue e destrói coisas belas”, como diz Caetano Veloso em sua canção Sampa. Porque temos muita beleza a erguer, sob as bênçãos do espírito Verdade. E porque, como diz o Codificador, “os recursos financeiros são o grande motor de todas as coisas, quando empregados com discernimento” (“Projeto: 1868”. In: kardec, Allan. Obras póstumas. Rio de Janeiro: feb, 2005. 1ª ed. esp. p. 411).


Grande abraço!

Leonardo Möller
Editor da Casa dos Espíritos
Vice-Presidente da Sociedade Espírita Everilda Batista

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Novo comunicado do estado de saúde de Robson Pinheiro.





Robson Pinheiro acaba de divulgar mais uma nota sobre seu estado de saúde e sobre o andamento de seu tratamento contra um linfoma Hodkins, tipo de câncer não agressivo do sistema linfático. Mostrando o mesmo bom humor de sempre, Robson já fala em seu retorno às atividades diárias e conta que mesmo durante o tratamento, continou psicografando. Saúde e mais saúde pra você Robson, é o que todos nós desejamos!
Leia na íntegra a nota divulgada:



Aos meus leitores, ouvintes e amigos.

Hoje resolvi escrever mais uma vez. Primeiro para agradecer a vocês que estão conectados pelas mídias sociais. Agradecer pelo apoio, pelo carinho, expressar minha gratidão a todos que me tenham em sua memória e em suas orações.

Meu tratamento contra o linfoma está sendo um sucesso. Embora as dificuldades decorrentes do próprio tratamento, tenho tido enorme alegria, tanto pelo apoio que venho recebendo das pessoas certas, no momento certo, quanto pelos resultados.
Em dezembro fiz exames para avaliação do tratamento. Para alegria minha e dos que comigo estão nesta luta, os procedimentos médicos estão sendo um sucesso. Tive a surpresa de ser informado pelo meu médico oncologista que o tratamento durará muito menos tempo do que o previsto. Espero mesmo que no final de fevereiro eu esteja liberado da quimioterapia.

É lógico que sairei do tratamento um tanto quanto mais leve, fluídico e magro. Mas tudo bem… Para quem começou com um peso de 98 quilos, até que perder uns 12 ou 15 me fez muito bem.
Porém, nesse tempo, não obtive sucesso em minha intenção de me parecer com o galã Lex Luthor. Ou seja, os cabelos não caíram. Tive de raspar com máquina 1, e depois me atrevi a passar máquina zero. Mas os danados não caíram de forma alguma. Então, improvisei. E fui às compras de novas roupas que coubessem neste figurino renovado pela químio: calças e camisas menores.

Graças a Deus, mesmo com as dores e a fraqueza que habitualmente ocorrem nos pacientes oncológicos, tenho sido visitado pelos amigos espirituais e estou psicografando, embora num ritmo menor que antes, mas permaneço trabalhando em parceria com os “ghosts”. E isso me tem mantido mais vivo e cheio de esperanças.
Aguardo ansiosamente o término do tratamento, pois desejo tirar férias da químio, quem sabe visitando terras d’além-mar ou me recuperando numa pousada incrustada em alguma montanha das Minas Gerais. Embora pelo meu gosto, mais do que pelo meu bolso, seria muito mais prazeroso curtir um bom vinho ou uma cava espanhola, embalado por uma guitarra cigana nas terras da Andaluzia, ou ainda um bom champanhe, vendo a multidão passear ao longo da Champs-Élysées… um lugar simplizinho assim!

Bem, meus amigos, tirando a brincadeira – que eu adoraria concretizar –, quero agradecer a vocês o carinho, o apoio e as orações. E, nesta reta final, espero poder contar com as boas vibrações daqueles que de alguma maneira me trazem no pensamento e nos corações.
Em breve aparecerei renovado, sem dores, sem químio, sem as limitações. Prometo comemorar a vitória num culto de louvor, abrindo um champanhe dentro do centro espírita, para desespero de alguns e louvor de muitos.

Beijos!

Robson

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Críticas e o exercício da reflexão.

Recebemos um comentário em nosso último post, assinado de forma enigmática – sem nome, mas através de um apelido de usuário – com duras críticas ao trabalho realizado pelo médium e terapeuta holístico Robson Pinheiro. Consideramos que seria pertinente publicá-lo aqui, seguido da resposta da editora. Segue o comentário na íntegra:

"DE TUDO UM POUCO Jan 8, 2012 07:38 AM
Como fazer tratamento Holístico sem considerar o lado espiritual?
O senhor Robson Pinheiro cobra R$900,00 por um curso de apometria e com a proteção da Espiritualidade, em cursinhos de final de semana, e ainda diz na maior cara de pau, que preferiria que a espiritualidade não estivesse lá pois poderia cobrar. Lembra-se deste espisódio Sr. Robson. Eu estava lá em 2004!
Veja um trecho do livro dele lançado recentemente. " É imperativo estudar a fundo o tema feitiçaria e magia negra e não apenas submeter-se a iniciações em cursinhos de final de semana, que mais servem para incrementar os dígitos das constas bancárias de quem os ministra...". INCOERÊNCIA. A vaidade o subiu a sua cabeça Robson. A fama trazida com a publicação de livros o tirou do caminho da verdadeira mediunidade. Sou médium e quero usar a mediunidade para auxiliar os sofredores. Trabalhar com desobsessão você não quer, mas a fama sim.
Você ainda não entendeu o espírito de sacrifício e doação que o médium tem que ter. Será que você está sendo mesmo orientado pela Espiritualidade Superior? A Espiritulalidade Superior afirma que não labora no erro e na inutilidade. 

Então acho que você precisa rever seus conceitos. Que Jesus te abençoe."



Em resposta, nosso comentário:



Receber críticas é sempre, no mínimo, um bom exercício. Dá o que pensar e podemos mudar algum ponto da caminhada, caso julguemos pertinente o comentário. Senão, é ocasião de reforçarmos nossas convicções e sentirmo-nos contentes de pensarmos como pensamos. 

Chama a atenção, porém, como em nosso dia a dia é incomum deparar com críticas sem o tom da agressividade, da acusação. Por alguns momentos, tenho a impressão de que quem assim critica, de alguma forma, se vê dissociado de qualquer erro. A meu ver, só isso poderia explicar tamanha veemência em expor e destacar o que vê como erro no outro. É como se, em sua fantasia, errar fosse um escândalo. Mas como, se errar é justamente uma das marcas de ser humano?

O texto acima começa por repreender os cursos ministrados por Robson Pinheiro. É possível defender que sejam cobrados por diversos ângulos, mesmo que a íntegra da renda fosse para a remuneração de Robson Pinheiro. Veja o que diz o codificador do espiritismo: "O médico dá o fruto de seus estudos, feitos, muita vez, à custa de sacrifícios penosos. O magnetizador dá o seu próprio fluido, por vezes até a sua saúde. Podem pôr-lhes preço" (KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o espiritismo. Rio de Janeiro: Feb, 2005. 1ª ed. esp. p. 470, item 10, cap. 26. Grifo nosso).

É certo que, ao ministrar um curso, médium algum está no pleno exercício da mediunidade. São os seus conhecimentos que são postos a serviço dos interessados, amealhados ao longo de muitas horas e muitos anos de estudo — ainda que no contato com os próprios espíritos. Ora, Kardec publicou a obra inaugural do espiritismo — O livro dos espíritos — com recursos próprios e não teve pudores de usufruir da renda que lhe proporcionava. Quer livro mais baseado no aprendizado que é fruto da convivência estreita com os espíritos? 

Embora longo, vale rememorar texto pouco lido do Codificador a esse respeito: "As minhas imensas riquezas proviriam, pois, das minhas obras espíritas. Conquanto essas obras tenham alcançado inesperado êxito, quem quer que esteja um pouco iniciado em negócios de livraria sabe que não é com livros filosóficos que se ganham milhões em cinco ou seis anos, quando sobre as vendas não se tem mais do que os direitos de autor, que não passam de alguns cêntimos por exemplar. Mas, avultado ou mínimo, sendo esse lucro fruto do meu trabalho, ninguém tem o direito de se imiscuir no emprego que lhe dou. “Comercialmente falando, estou na posição de qualquer homem que colha o fruto de seu trabalho; corro os azares de todo escritor que tanto pode ser bem-sucedido, como pode sofrer um malogro" ("Constituição do espiritismo". In: KARDEC, Allan. Obras póstumas. Rio de Janeiro: Feb, 2005. 1ª ed. esp. p. 452, item 10. Grifo nosso.)

De qualquer modo, os cursos ministrados por Robson Pinheiro ainda guardam uma particularidade. Em sua esmagadora maioria, têm a rendatotalmente revertida para as obras sociais e a implementação ou manutenção dos projetos que realizam as instituições fundadas por ele, na região metropolitana de Belo Horizonte. Isso mesmo: na íntegra. Noutras vezes, um percentual generoso: 50% ou mais.

A título de exemplo, é por essa razão que Robson Pinheiro é, além de fundador, administrador e presidente vitalício, também o maior doador (pessoa física) de recursos financeiros para a Clínica Holística Joseph Gleber, desde sua fundação.

Quanto à passagem de que Robson preferiria que os espíritos não estivessem presentes, pois então poderia cobrar… É claro que o leitor pode afirmar que ouviu o que quiser. Mas a verdade é que, ao escutarmos, damos a nossa interpretação. E aí, uma frase dita com humor perde a conotação e, fora de contexto, passa a significar coisa muito diversa do que significava na boca de quem disse, no momento em que foi dita. Seja como for, Robson não acredita ser possível se eximir à presença dos espíritos esclarecidos, que inspiram a todos, inclusive ele, em todas as atividades feitas com coração. Nem mesmo deseja tal coisa; é óbvio! 

Robson gosta é de contar em suas palestras e exposições como a ajuda espiritual era para ele um fator de conflito no passado, quando ocorria em esfera profissional. Inúmeras vezes deixou de cobrar atendimentos, como terapeuta, porque recebia uma dica ou outra dos espíritos quanto ao trabalho de terapia holística. Há muitos anos entende que isso é um exagero, um radicalismo, como o exemplo de O livro dos espíritos e Kardec esclarece. Ademais, a aplicar esse critério, isso condenaria toda e qualquer a inspiração espiritual, ou apenas aquela por meio da mediunidade não intuitiva? Como terapeuta, Robson cede seu tempo e seu conhecimento; é o que vende, portanto. Se os espíritos julgam por bem dar algum esclarecimento extra acerca de determinado cliente, isso é a expressão da misericórdia divina, e evidentemente não é cobrado. Como sequer pôr preço nisso?

No que tange ao trecho do livro citado, convidamos à leitura do mesmo trecho — na íntegra, porém. A omissão da fonte sem dúvida é um grande obstáculo para que o leitor comum o faça, portanto, cá está. Reproduzo parte do texto, porque já nos esclarece: "Para enfrentar feiticeiros encarnados ou desencarnados, não basta doutrinação nem mesmo o diálogo convencional; tampouco adianta entoar cânticos e acender velas sem mais amplos significados; de nada vale o teatro de determinados médiuns perante suas plateias crédulas. É preciso ir muito além. É imperativo estudar a fundo o tema feitiçaria e magia negra, e não apenas submeter-se a iniciações em cursinhos de final de semana, que mais servem para incrementar os dígitos das contas bancárias de quem os ministra do que para dar condições de afrontar a realidade de tais situações" (PINHEIRO, Robson. Pelo espírito Pai João de Aruanda. Magos negros. Contagem: Casa dos Espíritos, 2011. p. 275, item 83. Grifos nossos).

Como se vê, o texto fala que cursinhos de fim de semana não habilitam ninguém a "enfrentar feiticeiros encarnados ou desencarnados". É patente como não condena quaisquer cursos, mas apenas os que propõe iniciações com a finalidade de capacitar pessoas a lidar com tais questões. E note-se que o texto reprova tanto o ministrante que eventualmente faz isso quanto o aluno, que muitas vezes deposita no curso expectativa divergente daquela de quem o ministra. Ou seja: o texto não condena o estudo — como poderia tamanha insensatez? —, condena é a atitude mística perante quaisquer cursos, uma vez que não há habilitação a ser concedida na matéria.

Em seguida, a crítica descamba para um ataque mais pessoal, tanto passa a dirigir-se diretamente a Robson Pinheiro. Que podemos dizer?

Fama? Que fama? Famoso é quem está na capa de Caras! A vida de Robson continua muito, muito parecida, apenas com mais responsabilidades. O dia a dia da casa espírita agora envolve a administração de 4 instituições, todas albergadas sob a Unispiritus. A psicografia também prossegue, interrompida apenas quando a saúde a impede. E, ainda assim… 

Segundo o leitor, a suposta "fama" teria tirado Robson do "caminho da verdadeira mediunidade". Ao dizer, na frase seguinte, que é médium e pretende praticar a mediunidade "para auxiliar os sofredores", o leitor parece confessar que não ignora o "caminho da verdadeira mediunidade". Ele reforça minha interpretação ao encerrar o seu texto dizendo a Robson: "Você ainda não entendeu o espírito de sacrifício e doação que o médium tem que ter" (grifo nosso). Afirma também que a mediunidade teria como fim último o auxílio aos que sofrem. 

Tenho duas coisas a dizer sobre isso. A primeira é que, com efeito, desconhecemos o caminho da verdadeira mediunidade. Tateamos, aqui e ali, lembrando as lições do maior exemplo de médium, que é Jesus, e de grandes figuras, que nos servem de inspiração. Mas, conhecer tal caminho? Quem somos nós?! Os espíritos penam para nos ensinar ao menos um pouco… Repare que, no já citado O Evangelho segundo o espiritismo, os espíritos falam da missão dos espíritas no capítulo intitulado Os trabalhadores da última hora, isto é, a figura bíblica para aqueles que só começaram a trabalhar quando o dia já estava adiantado. Sendo assim, afirmo, fazendo eco com Robson: somos apenas aprendizes, e estamos longe de conhecer o caminho da verdadeira mediunidade. 

A segunda coisa é que, de nossa parte, preferimos recorrer ao texto fundador da doutrina espírita para esclarecer o objetivo da manifestação dos espíritos e, por extensão, da mediunidade. "Os Espíritos anunciam que chegaram os tempos marcados pela Providência para uma manifestação universal e que, sendo eles os ministros de Deus e os agentes de sua vontade, têm por missão instruir e esclarecer os homens, abrindo uma nova era para a regeneração da Humanidade" ("Prolegômenos". In: KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Rio de Janeiro: Feb, 2005. 1ª ed. esp. p. 68. Grifo nosso).

Salve a instrução e o esclarecimento de todos nós!
Obrigado pela oportunidade de reflexão.

Abraço!

Leonardo Möller
editor