quarta-feira, 2 de abril de 2014

Parabéns Chico!!!

Ao elaborar a planta original de construção da Sociedade (Everilda Batista), dirigi-me novamente a Uberaba, que fica a 485km da capital, a fim de submeter o esboço à apreciação de Chico Xavier. Era um sábado à tarde quando me recebeu rapidamente em sua residência. Naquela época, não conhecia ainda o médium Carlos Baccelli. Assim que entreguei o desenho ao Chico, ele arrastou as mãos por sobre o papel, pra lá e pra cá, como se estivesse lendo através do tato, sentindo o relevo dos traços… Olhou por mais alguns instantes e finalmente disse: 

– Vá fazer um passeio lá no centro do Baccelli – disse ele. – Vá ao Lar Pedro e Paulo – que fica no bairro de Lourdes – e amanhã volte aqui.

Na ocasião, Baccelli já não mais freqüentava as reuniões na casa do grande médium de Emmanuel. Obedeci e fui ao Lar Espírita Pedro e Paulo, claro: era difícil ignorar um conselho do Chico. Demorei a chegar, pois o endereço é distante para quem vai a pé, num bairro mais retirado. Não sabia o que o Chico queria dizer e recordo-me de ficar, durante o percurso, elucubrando a respeito, a fim de compreender. Assim que entrei, uma coisa saltou aos olhos: a simplicidade. Observei atentamente ao redor e percebi o telhado colonial, pé-direito até muito baixo, o pessoal trabalhando na cozinha – a cozinha logo me chamou a atenção. Havia alguns livros expostos sobre uma mesa, um ou outro velhinho andando pelo pátio. Mirei aquilo tudo e pensei:

– Gente, que o Chico quer dizer com isio aqui, com o trabalho do Lar Pedro e Paulo?

Retornei à casa do Chico no domingo à tarde, conforme solicitara. Examinou novamente a planta do arquiteto, da qual muito me orgulhava. Consistia numa construção de quatro andares, com um salão imenso. Chico enrolou o projeto, fixou bem no fundo dos meus olhos e disse:

– Tenha cuidado, meu filho. Em casa que muito cresce, o amor desaparece.

Tão logo se pronunciou, entregou-me o canudo e deu por encerrada a conversa, que mal havia começado.

O médium mineiro adorava esses ditos, frases como essa, com uma rima em geral simples, mas que revelavam grande sabedoria. Acredito que tantas de suas máximas sobreviveram e são repetidas justamente em razão disso: a forma fácil aliada ao conteúdo verdadeiro; a mesma fórmula dos ditados populares. Nunca pude esquecer aquele comentário.

Embarquei no ônibus com destino a Belo Horizonte perturbado com o que vira e escutara. Ao meditar sobre os acontecimentos do fim de semana, acabei por entender a mensagem que Chico havia procurado transmitir. O alerta era para ter cuidado e não fazer um supercentro. Assim que cheguei do Triângulo Mineiro, promovi uma reviravolta completa nas decisões tomadas até ali, com relação às obras. Um centro espírita médio, na proporção de nossa instituição, já representa bastante trabalho e exige grande esforço para sua manutenção, em matéria de recursos financeiros tanto quanto energéticos e humanos. Imagine se tivéssemos erguido uma casa de quatro pavimentos, conforme o ambicioso projeto original… Por certo o trabalho se tornaria sufocante, indo além de nossas possibilidades, especialmente naquele momento, quando a Casa dava os primeiros passos.

Confesso que hoje relativizo o conselho de Chico Xavier. Àquela época, funcionou. No entanto, lidamos na atualidade com o desafio de uma casa pequena para o número de pessoas que recebe e as atividades que realiza. Com a quantidade de gente que a procura, carecemos de espaço físico maior, e o crescimento não foi contemplado no projeto original. Por exemplo: temos cursos regulares com aproximadamente 350 alunos matriculados em 15 a 20 turmas, e cerca de 2 mil pessoas que freqüentam, semanalmente, a casa. A sede tem apenas um pavimento e meio, em virtude de ligeiro declive do terreno, num lote urbano de 360m. Em contrapartida, mesmo ao levar isso em conta, percebo aspectos importantes na recomendação de Chico, sobre fazer uma casa de proporções menores. Às vezes, há espíritas que se apressam em dizer que ele estava equivocado, em situações diversas, porém isso reflete o pensamento de um grupo que tende a criticá-lo por seu jeito meio caipira de fazer espiritismo. Na outra extremidade, há quem abrace sua filosofia incondicionalmente. Como em tudo, a sabedoria reside no meio-termo. "


Trecho do livro Os espíritos em minha vida, de Robson Pinheiro, editado por Leonardo Möller, que além dessa, traz muitas outras passagens do encontro dos médiuns. Nesse 2 de abril, dia do aniversário do Chico, resolvemos contar esta história e relembrar um pouco o homem de jeito simples, de sabedoria gigantesca e de muitos ensinamentos. Obrigado Chico!