sábado, 4 de agosto de 2012

Texto inédito do lançamento de Robson Pinheiro "Pelas ruas de Calcutá".

O novo livro de Robson Pinheiro, Pelas ruas de Calcutá, será lançado no próximo dia 9/8 na bienal do Livro de São Paulo. Por enquanto, você fica aqui com esse "aperitivo". Texto inédito da introdução do livro, onde Teresa explica o que os leitores devem esperar desse livro. As imagens também fazem parte da obra, que virá toda ilustrada. Abs e boas leituras!









Introdução

pelo espírito Teresa de Calcutá

Aos sábios, aos entendidos do mundo, aos meus leitores da vida, aos pobres de espírito e entendimento, venho mais uma vez transformar meus pensamentos em palavras. Não são palavras delicadas, tampouco a repetição daquilo que você deseja ouvir. Falo para incomodar. E muito.

Acredito piamente que nós, os cristãos da atualidade, acomodamo-nos em nossa maneira de ver e interpretar as necessidades alheias. Nossos conceitos carecem de revisão e de abertura mais ampla, assim como o cristianismo por nós praticado precisa urgentemente ser reinventado; não é preciso muita sensibilidade para perceber que o recheamos de tanto peso e tantas interpretações, que considero urgente uma releitura dos conceitos trazidos por Cristo há mais de 2 mil anos. Caridade, fraternidade, fome, pobreza, oferta ou doação, Evangelho e mais alguns dos temas abordados por Cristo precisam ser revisitados, mas não com a cautela comum nas pessoas politicamente corretas, que fazem de tudo para não desagradar ninguém e não se definem espiritualmente.

Falo com a mesma firmeza com que falava antes, junto às pessoas de poder, aos religiosos e representantes da comunidade. Sendo assim, venho para incomodar os que dormem espiritualmente. Falo para sacudir aqueles que não se envolvem com a causa dos pobres ou “pobres de espírito”;
 dirijo-me aos que não simpatizam com os necessitados, aos religiosos que não conseguem ultrapassar a barreira de suas crenças pessoais e, também, àqueles que fazem uso do pobre para se promover social, política e espiritualmente. Não esperem, portanto, que minhas palavras agradem quem não se interessa verdadeiramente pela caridade legítima, genuína.

Quem permanece em seu apartamento curtindo sua vida, quem se ilude querendo conviver com pessoas mais delicadas, educadas, elegantes e belas; a esses, minhas palavras irão incomodar. Quem deseja acomodar-se, isolar-se da causa dos pobres e evitar lidar com as pessoas mais comuns, de hábitos de vida mais simples, embora nem sempre humildes, minhas palavras irão sacudir, mexer, penetrar profundamente como um bisturi num corpo necessitado de cirurgia. Resolvi falar copiando o jeito de Cristo quando falava não aos necessitados, mas aos discípulos, aos fariseus, aos homens considerados inteligentes e sábios de seu tempo.

Não falo para agradar professores, alunos, religiosos; não meço palavras para despertar as almas adormecidas na ilusão de suas concepções ou crenças pessoais. Filosofia não trouxe a mim nenhuma felicidade; não encontrei explicações satisfatórias para o impulso que me levou ao encontro das causas perdidas ou dos pobres do mundo. Estas palavras se destinam aos que dormem, aos que se encastelam em suas concepções religiosas e ainda não acordaram para a necessidade de transformar sua filosofia e suas explicações politicamente corretas em vivências reais e em Evangelho genuíno, vivido, sentido no cotidiano.

Sob essa ótica, não posso medir palavras nem ser o exemplo de suavidade e mansuetude que alguns esperam de mim. Nestas palavras aqui escritas, continuo eu mesma, firme, direta, veraz, contundente. Seja nas esquinas do mundo, no trato com Jesus, nas orações que elevo a Cristo ou no lidar com as pessoas que encontro pelas vias do mundo ou pelas ruas de Calcutá, continuo sendo eu mesma, a Teresa dos pobres, Teresa de Deus, Teresa do povo. Esta sou eu, Teresa de Calcutá.

Um comentário:

  1. Caro Irmão Robson Pinheiro:

    Talvez o Irmão nem leia esta colocação, sob a forma de palavras torpes. Mas não importa: interesso-me pela expressão e esta, meu Irmão, é muito viva, tão viva como o ressoar das palavras de Teresa de Calcutá em minh´alma.
    Sim, necessitamos VERDADEIRAMENTE revisitar esse Evangelho! Sair do politicamente correto, dessa coisa morna, aguada, quase "blasè" dos discursos engessados. Encontrei nestas palavras de Teresa tudo o que penso sobre a releitura do Evangelho em tempos individualistas, egoísticos. O que significa falar de miséria dentro de nosso conforto? O que sabemos sobre a miséria? Quando um irmão em situação de rua se nos aproxima o que fazemos? Tocamos em suas mãos para senti-las calejadas e enfraquecidas pela dor do abandono? Tentamos entender o que o fez chagar àquele ponto em sua vida? Ou simplesmente nem olhamos em seus olhos e tapamos o nariz com o fito de livrar-nos do mal cheiro?
    Ah, meu Irmão! Se vc tivesse ideia do quanto estou balançada, sentindo-me pequena e hipócrita! Vc não faz ideia! Palavras são lindas, ações valem ouro. É preciso verdeiramente se aproximar das pessoas, independente de condição social, raça ou credo, porque essa é a vivência do Evangelho. Foi isto que nos pediu Jesus: tenham amor pelo próximo. Mas o amor nasce a partir do despertamento para a necessidade de sair do comodismo da vida hodierna em direção ao contato com o outro. Foi isso o que fez Teresa de Calcutá, seguindo os passos do Mestre. Ela pode falar com toda a propriedade de quem sabe o que significa a miséria. E podemos ser seres miseráveis habitando num castelo de ouro, enclausurado num coração de ferro (e já enferrujado...).
    Acho que Teresa nos propõe esse exercício: que saiamos do comodismo crônico das palavras bonitas e engessadas, dos livros quase canônicos, e tenhamos ações de amor. E ele é a tônica deste livro, ao que parece.
    Sem palavras, mas incendiada pelas palavras de Teresa,

    Alessandra

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