por Leonardo Möller
editor da Casa dos Espíritos
“Acho que a Casa dos Espíritos nunca perguntou o que deveria fazer. Se me permite a sinceridade, se tivesse caminhado perguntando onde colocar o próximo passo, ainda estaria lá atrás”. Glub… Confesso que fiquei muito pensativo ao ouvir essas palavras de um amigo e profissional em que confio bastante, que admira tanto nossa trajetória quanto a iniciativa, inédita para nós, de submeter capas finalistas ao público, ao leitor, através das redes sociais, a fim de que nos ajudassem a eleger a vencedora.
Àquela altura, a pergunta era: Será que dá pra escolher qualquer capa que não seja a mais aclamada pelo internauta, especialmente quando a diferença era tão grande em favor da opção 1 e em detrimento das outras 2, rejeitadas por muitos, até?
Optamos pelo caminho da coragem. Decidimos levar outro tema para a capa, sem aparente conexão com o título. Afinal, relógio é a ilustração perfeita para o título, como vários internautas destacaram. Sem medo de desagradar — ou seja, cientes de não há como agradar a todos —, e convictos de que precisamos ser coerentes na trajetória de ousadia que temos trilhado até aqui, ao longo destes 16 anos de história. Além do mais, a obra é mais que ousada!
Dois outros comentários, em nossa página no Facebook, foram emblemáticos e ajudaram a decidir. Disse Jura Ndir: “Pelo amor de Deus! Pelo menos as capas de obras espíritas não apelem ao erotismo/nudismo”. E, logo em seguida, Gustavo Henrique: “Eu voto na número 2 [com leve nudez feminina], pois é totalmente quebradora de conceitos. Quem disse que apreciar o corpo humano nu é [sinônimo de] depravação sexual? Sexualidade é maior do que isto”.
Então estava definido. Não seria uma nem outra — a escolha foi uma variação das capas 2 e 3 —, mas tinha de ser “quebradora de conceitos”, pois é consistente com o que fizemos a vida inteira. E não é belo o ser humano — espírito e corpo — com todas suas contradições, seus desafios e paradoxos? Eis uma verdade difícil de questionar: todos nascemos de um ato sexual, mais ou menos sensual, quiçá erótico. Evidenciar esse fato é necessariamente apelativo? Erotismo não é pornografia. E, mesmo pornografia, é o fim do mundo? Muitos espíritas e espíritos acreditam e defendem que sim. Vamos ver o que Ângelo Inácio tem a dizer a respeito, por meio de seus personagens, numa obra que apresentamos agora, com capa, sinopse e coração.
O próximo minuto.
Robson Pinheiro, pelo espírito Ângelo Inácio.
Sexo, sexualidade, afetividade, inclusão. Será que estamos preparados para falar, estudar e defender ideias associadas a esses conceitos? Falar de negros, homossexuais, garotos de programa… Se queremos abordar temas intrigantes e incômodos, é preciso começar a voltar a atenção para o que mais de perto fala à nossa sociedade.
Sexualidade com espiritualidade ou espiritualidade do sexo, sem preconceitos, sem lavagem cerebral, sem imposições e interpretações forçadas pelo dogma religioso ou social. Nas pegadas de cada personagem, experimente a dor, a discriminação, os tabus e a culpa tanto quanto a descoberta da espiritualidade e do amor. Humanos como todos nós, sensíveis como poucos, felizes como muitos desejariam ser. Este é o próximo minuto de uma vida, de várias vidas, em busca de qualidade e reflexão.