É inegável a contestação frequente do carnaval por várias vertentes da espiritualidade e religiosos. Afinal, carnaval é o despudor: o festival de bundas, peitos e tantos outros corpos nus, invocando o pecado, a luxúria, o sexo, a bebida e outras drogas de gozos materiais, não é isso?!
Bem, depende. Acreditamos que o carnaval seja muito mais que um simples alvo para flexas moralistas. Sob o olhar sem preconceitos, podemos enxergar beleza, alegria, comunhão, amor, solidariedade e sim, até recato. Podemos encontrar lições do bem e da busca pela evolução, mesmo que seja através de uma dança, um sorriso, um abraço, um beijo até. Afinal, "Deus se manifesta de diversas maneiras".
Deixamos para que você reflita, o texto genial do Frei Beto, falando de seu carnaval particular. Contando como ele acabou criando um seu bloco exclusivo para uma festa diferente – um carnaval espiritual. Boa folia!
Carnaval espiritual
por Frei Beto
Ouço o apito de alerta à bateria, o repicar dos tambores, o chacoalhar metálicos dos pandeiros, a marcação do bumbo, o gemido agônico da cuíca, o estremecer rítmico da batucada. Sei que é carnaval. Festa de travestir-se no que não se é, euforia inescrupulosa, despir o corpo e a alma ao descompasso dos pés movidos pelo samba, erguer os dedos das mãos enquanto o corpo rodopia ao som de marchinhas.
Meu carnaval é outro. Não o do repúdio moralista à nudez produzida para o olhar televisivo. Nem o das escolas de samba na épica revelação de como a história pode ser contada por uma versão onírica. Nem o dos bailes em que máscaras e fantasias melhor traduzem o que somos, sem disfarces. Meu carnaval é espiritual. Nele ressoam enredos abissais. Há um cortejo de virtudes que exercem sobre mim fascínio e medo. Há um cordão de arlequins e pierrôs cuja alegria deixa ensimesmada minha falta de coragem para me deixar levar. Há um baile no salão profundo de minha subjetividade, no qual, sem máscara, se espelha minha verdadeira identidade.
Meu carnaval é pura orgia. Porque me recolho na alcova da plena nudez e convoco o trio: o Pai, que é mais Mãe, o Filho e o Espírito Santo. Ébrios de amor, atravessamos as madrugadas em despudorada esbórnia espiritual. Às primeiras luzes do amanhecer já não sabemos quem é um e quem é outro. Somos todos imagem e semelhança de um e de outro. Mergulhados em ressaca mística. Meu carnaval não tem a elegância das comissões de frente, a majestática apoteose dos carros alegóricos, o esplendor dos concursos em que desfilam imperadores e ninfas. É uma festa na qual o espírito se despe de toda fantasia e se exibe às verdades mais atrozes. Nele cubro-me de paetês e lantejoulas para aliviar o dom inefável de me saber morada divina. Faço de conta que sou apenas o que aparento, embora exposto intimamente à passarela repleta de gente que assiste, extasiada, ao desfile surpreendente das bem-aventuranças.
Circulo pelos salões travestido de palhaço. Assim, posso rir dos senhores cheios de certezas, dos que julgam que a vida tem mais respostas que perguntas, de quem faz da existência mero adereço da própria vaidade, sem jamais provar a comunhão amorosa com a natureza, o próximo e o Mestre Sala que faz o Universo dançar como cabrocha desnuda exibindo o lindo corpo salpicado de galáxias brilhantes.
Meu carnaval não se confina em três dias. Ele se estende por toda a vida, até culminar na apoteose que faz do radicalmente humano sua divina plenitude. Meu carnaval é acreditar que o reinado de Momo é prenúncio do futuro que nos aguarda, quando toda lágrima secará, todo choro cessará, todo luto se apagará, toda saudade findará. Porque Ele será tudo em todos e as portas de seu reino, escancaradas, acolherão todos ao eterno amor que cativa, arrebata, transubstancia, como deleitável fogo que jamais queima nem se apaga.
Fonte: http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/noticia/noticia.asp?cod_Canal=53&cod_noticia=17346
Carnaval espiritual
por Frei Beto
Ouço o apito de alerta à bateria, o repicar dos tambores, o chacoalhar metálicos dos pandeiros, a marcação do bumbo, o gemido agônico da cuíca, o estremecer rítmico da batucada. Sei que é carnaval. Festa de travestir-se no que não se é, euforia inescrupulosa, despir o corpo e a alma ao descompasso dos pés movidos pelo samba, erguer os dedos das mãos enquanto o corpo rodopia ao som de marchinhas.
Meu carnaval é outro. Não o do repúdio moralista à nudez produzida para o olhar televisivo. Nem o das escolas de samba na épica revelação de como a história pode ser contada por uma versão onírica. Nem o dos bailes em que máscaras e fantasias melhor traduzem o que somos, sem disfarces. Meu carnaval é espiritual. Nele ressoam enredos abissais. Há um cortejo de virtudes que exercem sobre mim fascínio e medo. Há um cordão de arlequins e pierrôs cuja alegria deixa ensimesmada minha falta de coragem para me deixar levar. Há um baile no salão profundo de minha subjetividade, no qual, sem máscara, se espelha minha verdadeira identidade.
Meu carnaval é pura orgia. Porque me recolho na alcova da plena nudez e convoco o trio: o Pai, que é mais Mãe, o Filho e o Espírito Santo. Ébrios de amor, atravessamos as madrugadas em despudorada esbórnia espiritual. Às primeiras luzes do amanhecer já não sabemos quem é um e quem é outro. Somos todos imagem e semelhança de um e de outro. Mergulhados em ressaca mística. Meu carnaval não tem a elegância das comissões de frente, a majestática apoteose dos carros alegóricos, o esplendor dos concursos em que desfilam imperadores e ninfas. É uma festa na qual o espírito se despe de toda fantasia e se exibe às verdades mais atrozes. Nele cubro-me de paetês e lantejoulas para aliviar o dom inefável de me saber morada divina. Faço de conta que sou apenas o que aparento, embora exposto intimamente à passarela repleta de gente que assiste, extasiada, ao desfile surpreendente das bem-aventuranças.
Circulo pelos salões travestido de palhaço. Assim, posso rir dos senhores cheios de certezas, dos que julgam que a vida tem mais respostas que perguntas, de quem faz da existência mero adereço da própria vaidade, sem jamais provar a comunhão amorosa com a natureza, o próximo e o Mestre Sala que faz o Universo dançar como cabrocha desnuda exibindo o lindo corpo salpicado de galáxias brilhantes.
Meu carnaval não se confina em três dias. Ele se estende por toda a vida, até culminar na apoteose que faz do radicalmente humano sua divina plenitude. Meu carnaval é acreditar que o reinado de Momo é prenúncio do futuro que nos aguarda, quando toda lágrima secará, todo choro cessará, todo luto se apagará, toda saudade findará. Porque Ele será tudo em todos e as portas de seu reino, escancaradas, acolherão todos ao eterno amor que cativa, arrebata, transubstancia, como deleitável fogo que jamais queima nem se apaga.
Fonte: http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/noticia/noticia.asp?cod_Canal=53&cod_noticia=17346
Não se leem relatos em obras espíritas sérias de que o plano espiritual superior celebre o carnaval.
ResponderExcluirAlegria sim, mas alegria da alma que aspira evoluir dentro dos preceitos que Jesus nos trouxe há 2000 anos.
Não é necessário um feriado de carnaval para se buscar a reflexão.
É necessário buscar nas palavras de Jesus a reflexão diária para termos o roteiro de como conquistar o Reino de Deus asseverado por Ele quando entre nós, esteve.
é.. realmente não se vê relatos... até porque não é necessário... o plano espiritual superior já é um carnaval, pois vive em felicidade, amor e alegria constantes, sem verniz social nem hipocrisias... que na época de carnaval, se replica na Terra à maneira de seres imperfeitos que somos, ou seja, nas festas que se tem nas ruas e nos salões... =)
ResponderExcluir