quarta-feira, 3 de abril de 2013

Texto inédito de Ângelo Inácio: introdução para o livro "Cidade dos espíritos".


A vida na erraticidade. Sem vagar entre nuvens de incertezas, todos nós vivemos e viveremos apesar da morte, da dor e do sofrimento. Sem nos perder no nada incompreensível ou diluir a consciência, fundindo-a ao todo inexplicável pelo vocabulário humano, seja religioso ou científico, sobrevivemos e sobreviveremos entre as estrelas. 

O homem é produto das estrelas e para as estrelas retornará  um dia, quando puder alçar voo rumo ao país da eternidade. Lá é onde moram os sonhos, onde vivem os Imortais, onde as luzes se fazem gente e onde os seres são feitos de pura luz. É onde fica a cidade habitada pelas consciências que despertaram para a vida além dos limites demarcados por fronteiras, estandartes ou bandeiras; onde cessam os partidarismos políticos, ideológicos ou religiosos.

Esse é o mundo onde não há medo, nem culpa, nem  cobrança. Essa é a Aruanda de todos os povos, de todas as  gentes, a cidade dos espíritos. O país das estrelas pode ser cantado em prosa, em verso, ao som de atabaques ou entre melodias refinadas de instrumentos mil. A cidade dos espíritos ou, simplesmente, Aruanda é o céu, o orum, o paraíso, para muitos. Pode ser também o fulgor das estrelas, o cantar dos pássaros ou, então, a habitação de pais-velhos, a terra de caboclos, de brancos e negros, asiáticos, índios, de peles vermelhas, pretas ou amarelas; afinal, essa metrópole é a pátria daqueles que não se sujeitam mais aos acanhados comportamentos exclusivistas e sectários das sociedades humanas. Ali, entre as estrelas, é onde o espírito se retempera, onde é capaz de haurir forças para as tarefas de redenção, auxílio ou intervenção no mundo dos homens.

Cidade dos agentes da justiça divina — essa é a realidade da Aruanda. Onde a justiça e a equidade se aliam para estabelecer o Reino nos corações humanos e na Terra, em todas as dimensões. Dela partem guardiões, caravanas que interferem no mundo em nome da divina justiça. É onde me encontrei, aonde fui conduzido pela espada flamejante de um guerreiro que descortinou, ante minha visão estreita, as luzes e os caminhos de Aruanda, também conhecida por alguns como Ilha Sagrada, por outros, como Shamballa; para mim, somente Aruanda, a cidade dos Imortais. Um estilo de vida, um conceito de paz, uma filosofia, uma política divina — tudo isso faz da cidade dos espíritos um lugar mítico, uma escola onde se preparam espíritos, forjam-se heróis anônimos, que lutam pelo progresso da humanidade. Onde residem encantos e encantados, onde lendas encontram sua explicação e onde o tipo encontra o antítipo. Da Aruanda, onde me encontrei depois de abertos os portais da morte e onde até hoje me inspiro e respiro, quando posso, a fim de retornar à Terra dos meus encantos e dos meus antigos amores, é de onde trago, na bagagem da alma, a poesia da imensidade.

Ângelo Inácio
São Paulo, 3 de março de 2013.

2 comentários:

  1. Ângelo é sempre inspirador, parece que passa um pano em nossas mentes tirando a poeira da ignorância e assim percebendo com mais clareza a realidade que nos cerca, mesmo sendo oculta.

    Muito bom esse cara!

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  2. sem comentarios, poi e a pura realidade,acreditem ou nao a terra e simplismente uma gota no oceano da imortalidade.

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