O melhor jeito de entender nosso consumo atual de conteúdo é usando o outro tipo de consumo que já conhecemos melhor: o consumo de alimentos. O conceito de nutrição, valendo não apenas pelo o que entra pela boca, mas sim por todos os sentidos.
Não tem arquiteto de informação?
Pois eu acho que deveria ter, urgentemente, nutricionista de conteúdo.
Confira nos onze itens abaixo a analogia simples e direta sobre as conexões que realizamos diariamente para tudo que "engolimos":
01.
Nutrição é a transformação de alimentos em energia para manter nosso corpo funcionando e em atividade.
Nutrição mental é a transformação de conteúdos em repertório para manter nosso cérebro funcionando e em atividade.
02.
Os nutrientes dos alimentos são o combustível para manter nosso corpo em movimento.
Os nutrientes dos conteúdos são o combustível para manter nosso cérebro em raciocínio.
03.
Alimentos (vegetais, frutas, carnes, etc) podem ser classificados como melhor ou pior, dependendo do seu valor nutritivo para o corpo.
Conteúdos (livros, filmes, posts, tweets, facebooks, fotos, etc) podem ser classificados como melhor ou pior, dependendo do seu valor nutritivo para o cérebro.
04.
O critério mais básico na escolha de alimentos é o “gosto/não gosto” (palatabilidade)
O critério mais básico na escolha de conteúdo é o “like/don’t like” (opinabilidade)
05.
Já percebemos a relação direta entre a escolha dos alimentos e a saúde do corpo. Sabemos que precisamos ser mais criteriosos do que um simples ”gosto/não gosto”
Ainda não percebemos a relação direta entre a escolha dos conteúdos e a saúde mental. Não sabemos ainda que precisamos ser mais criteriosos que um simples “like/don’t like”
06.
Diferentes alimentos, diferentes nutrientes, diferentes estados corporais. Meia hora depois de uma salada é diferente de meia hora depois de um churrasco.
Diferentes conteúdos, diferentes nutrientes, diferentes estados mentais. Meia hora depois de um telejornal é diferente de meia hora depois de um filme no cinema.
07.
A transformação de alimentos em energia é chamada de metabolismo e seu resultado é um corpo ativo e hábil. Os maiores benefícios são pessoais.
A transformação de conteúdos em sabedoria é chamada de raciocínio e seu resultado é uma mente pensante, criativa, inspiradora e transformadora. Os maiores benefícios são coletivos.
08.
O sistema digestório de alimentos usa a retenção ou excreção do que foi consumido usando o critério nutritivo. Tem nutriente, fica. Não tem, sai.
O sistema digestório de conteúdos usa a retenção ou esquecimento do que foi consumido usando o critério emocional. Tem emoção, lembra. Não tem, esquece.
09.
Nossa atual consciência da importância de uma dieta alimentar saudável e balanceada é razoável. É factual, mensurável e universal.
Nossa atual consciência da importância de uma dieta de conteúdo saudável é muito pobre. É abstrata, não mensurável e pessoal.
10.
O consumo de alimentos inadequado tem evidências rápidas e visíveis: ficamos gordos. Existem ferramentas e medidas que comparam com padrões ideias e comprovam facilmente a inadequação (balança, exames laboratoriais, etc). A médio prazo o corpo adoece como forma de aviso. A experiência é intensa e a curva de aprendizado e a eventual correção são rápidas.
O consumo de conteúdo inadequado não tem evidências rápidas nem explícitas: nosso repertório, valores e raciocínios pioram lentamente mas como são abstratos não existem ferramentas ou medidas que comparem com padrões ideias e possam comprovar a inadequação. A experiência é sutil e o aprendizado e eventual correção são praticamente nulos.
11.
A consciência de que o consumo alimentar tem mais a ver com qualidade do que quantidade é alta.
A consciência de que o consumo de conteúdo tem mais a ver com qualidade do que quantidade é baixa. O resumo, personificado
Dada a chance para uma criança escolher seu consumo, a escolha é pelo gosto: o açucarado, o gorduroso.
Pois somos crianças gordas e doentes, alimentando uns aos outros apenas com chocolates, até vomitarmos, para podermos continuar comendo mais chocolates. Quanto mais gostoso o chocolate que você divide, mais amado e celebrado você é.
Seus chocolates são os mais disputados.Você fica convencido que seus chocolates são mesmo os melhores e passa a consumir apenas os seus também. O dos outros, pela lógica da popularidade, são piores. A menos que fiquem mais populares que os seus, quando então você passa a consumi-los também.
Com o tempo você vai ficando tão gordo, mas tão gordo, que ninguém consegue se aproximar por causa da circunferência da sua barriga, feita a base de chocolates. Você fica solitário. Todos ficam gordos e as circunferências se tocam porque vão ocupando todo o espaço, mas as cabeças se isolam. No final somos um enorme grupo de crianças morbidamente gordas, todas em contato, mas com as cabeças isoladas. Comendo chocolates e vomitando sem parar.
Esse cenário so vai mudar quando os males ficarem evidentes e as próximas gerações aprenderem com os erros desta.
Nosso desafio atual em relação a conteúdo equivale ao auto-controle de uma criança solta no Walmart e livre para consumir o que quiser.
A consciência de que o consumo de conteúdo tem mais a ver com qualidade do que quantidade é baixa. O resumo, personificado
Dada a chance para uma criança escolher seu consumo, a escolha é pelo gosto: o açucarado, o gorduroso.
Pois somos crianças gordas e doentes, alimentando uns aos outros apenas com chocolates, até vomitarmos, para podermos continuar comendo mais chocolates. Quanto mais gostoso o chocolate que você divide, mais amado e celebrado você é.
Seus chocolates são os mais disputados.Você fica convencido que seus chocolates são mesmo os melhores e passa a consumir apenas os seus também. O dos outros, pela lógica da popularidade, são piores. A menos que fiquem mais populares que os seus, quando então você passa a consumi-los também.
Com o tempo você vai ficando tão gordo, mas tão gordo, que ninguém consegue se aproximar por causa da circunferência da sua barriga, feita a base de chocolates. Você fica solitário. Todos ficam gordos e as circunferências se tocam porque vão ocupando todo o espaço, mas as cabeças se isolam. No final somos um enorme grupo de crianças morbidamente gordas, todas em contato, mas com as cabeças isoladas. Comendo chocolates e vomitando sem parar.
Esse cenário so vai mudar quando os males ficarem evidentes e as próximas gerações aprenderem com os erros desta.
Nosso desafio atual em relação a conteúdo equivale ao auto-controle de uma criança solta no Walmart e livre para consumir o que quiser.
Estamos comendo no McDonald’s da internet todos os dias.
Fonte: Wagner Brenner / Update or Die.
Vale muito a pena ler ,muito interessante !!
ResponderExcluirMuito esclarecedor e verdadeiro estamos indo num caminho e nos entupindo de superficialidades e nos isolando das pessoas mas podemos reverter isso
ResponderExcluirSimplesmente ótimo!! É bem isso...
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